quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Jovem e o Mercado de Trabalho

O mercado de trabalho, hoje, se encontra mais competitivo do que nunca. Profissões de vários tipos surgem enquanto outras desaparecem. Essas novas profissões que surgem exigem um grau cada vez maior de especialização, pois estão diretamente ligados a áreas de extrema tecnologia. Isso além de tornar o mercado mais competitivo, em virtude de ser uma área cada vez mais promissora, também torna o mercado de trabalho cada vez mais excludente, pois nem todos têm recursos para esta especialização. Mas, no meio desses comentários, surge a seguinte pergunta: o que torna este mercado tão competitivo nas áreas de extrema tecnologia? Esta não é uma pergunta difícil de responder, basta olharmos para o que está acontecendo com muitas profissões que estão desaparecendo. Estas profissões desaparecem por causa das tecnologias que vão surgindo. Um caso clássico deste assunto é a substituição de mão de obra humana por máquinas cada vez mais avançadas que substituem um número cada vez maior de trabalhadores a um custo cada vez menor.
Visto isso, podemos concluir que o mercado de trabalho hoje se tornou um mercado excludente e que cabe aos jovens a função de se especializarem cada vez mais, principalmente nas áreas de tecnologia e telecomunicações, pois estas são as áreas que mais oferecerão oportunidades no futuro. Só assim o jovem de hoje poderá tentar se firmar no mercado de amanhã.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Protagonismo Juvenil


O Adolescente como Protagonista

Antônio Carlos Gomes da Costa

Ao perguntar-nos acerca do tipo de jovem que queremos formar, concluímos que é aquele autônomo, solidário, competente e participativo. Refletindo sobre essa questão, surgiu-nos a idéia de protagonismo juvenil, conceito que veio preencher uma lacuna teórico-prática nesse campo.

A palavra protagonismo é formada por duas raízes gregas: proto, que significa "o primeiro, o principal"; agon, que significa "luta". Agonistes, por sua vez, significa "lutador". Protagonista quer dizer, então, lutador principal, personagem principal, ator principal.

Uma ação é dita protagônica quando, na sua execução, o educando é o ator principal no processo de seu desenvolvimento. Por meio desse tipo de ação, o adolescente adquire e amplia seu repertório interativo, aumentando assim sua capacidade de interferir de forma ativa e construtiva em seu contexto escolar e sócio-comunitário.

O centro da proposta é que, através da participação ativa, construtiva e solidária, o adolescente possa envolver-se na solução de problemas reais na escola, na comunidade e na sociedade.

Um dos caminho para que isso ocorra é mudar nossa maneira de entender os adolescentes, e de agir em relação a eles. Para isso, temos de começar mudando a maneira de vê-los. O adolescente deve começar a ser visto como solução, e não como problema.

No interior dessa concepção, o educando emerge como fonte de iniciativa (na medida em que é dele que parte a ação), de liberdade (uma vez que na raiz de suas ações está uma decisão consciente) e de compromisso (manifesto em sua disposição de responder por seus atos).

Assim, quando o adolescente, individualmente ou em grupo, se envolve na solução de problemas reais; atuando como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso; temos, diante de nós, um quadro de partcipação genuína no contexto escolar ou sócio-comunitário, o qual pode ser chamado de protagonista juvenil.

Na perspectiva do protagonismo juvenil, é imprescindível que a participação do adolescente seja de fato autêntica e não simbólica, decorativa ou manipulada. Essas últimas são, na verdade, formas de não-participação que pode causar danos ao desenvolvimento pessoal e social dos jovens, além de minar a possibilidade de um convívio autêntico entre eles e seus educadores. A participação é a atividade mais claramente ontocriadora, ou seja, formadora do ser humano, tanto do ponto de vista pessoal como social.

Educar para a participação é criar espaços, para que o educando possa empreender, ele próprio, a construção de seu ser. Aqui, mais uma vez, as práticas e vivências são o melhor caminho, já que a docência dificilmente dará conta das múltiplas dimensões envolvidas no ato de participar.

Na vivência dessa pedagogia, o educador já não pode limitar-se à docência. Mais do que ministrar aulas, ele deve atuar como líder, organizador, animador, facilitador, criador e co-criador de acontecimentos, por meio dos meio dos quais o educando possa desenvolver uma ação protagônica.

A adesão à perspectiva pedagógica do protagonismo juvenil vai muito além da assimilação, pelo educador, de algumas noções e conceitos sobre o tema. Antes de tudo, essa adesão deve traduzir-se em um compromisso de natureza ética entre o educador e o adolescente. O protagonismo deve ser vivido como participação do adolescente no ato criador da ação educativa, em todas as etapas de sua evolução.

Além de um compromisso ético, a opção pelo desenvolvimento de propostas baseadas no protagonismo juvenil exige do educador uma clara vontade política no sentido de contribuir, pelo seu trabalho, para a construção de uma sociedade que respeite os direitos de cidadania e aumente progressivamente os níveis de participação democrática de sua população.

Mas a clareza conceitual, o compromisso ético e a vontade política só potencializam verdadeiramente sua ação, quando o educador está comprometido em níveis que ultrapassam em profundidade o conhecimento do assunto, ou seja, quando ele está emocionalmente envolvido com a causa da dignidade plena do adolescente. Para que isso ocorra, o educador deve evitar posturas que inibam a participação plena dos jovens. Eis um pequeno elenco de posturas assumidas pelos adultos ao trabalhar com adolescentes:

- Anunciar aos jovens decisões já tomadas, reservando-lhes apenas o dever de acatar;

- Decidir previamente e depois tentar convencer o grupo a assumir a decisão, tomada pelo educador, como se fora sua própria decisão;

- Apresentar uma proposta de decisão e convocar o grupo para discuti-la;

- O educador apresenta o problema, colhe sugestão dos jovens e depois decide;

- O educador apresenta o problema, colhe sugestões e decide com o auxilio do grupo;

- O educador estabelece os limites de determinada situação e solicita aos adolescentes que tomem decisões dentro desses limites;

- O educador deixa a decisão a cargo do grupo, sem interferir no processo que a originou.


A evolução do trabalho com um grupo de adolescentes empenhados em decidir, a partir de uma ação protagônica, segue de modo geral as seguintes etapas:


Apresentação da situação - problema

A situação-problema deve ser apresentada do modo mais realista e desafiante possível. É necessário embasá-la em dados, informações e objetivos


Proposta de alternativas ou vias de solução

Deve-se procurar extrair do grupo o maior número possível de alternativas de solução, para o problema apresentado.


Discussão das alternativas de solução apresentadas

As propostas devem ser discutidas e criticadas livremente. O grupo deve estar consciente de que são as idéias, e não as pessoas que as apresentaram, que estão em julgamento


Tomada de decisão

Durante a discussão, o grupo vai descartando as alternativas mais inviáveis e inconsistentes, até chegar à decisão final, que pode ser unânime ou majoritária. Só em caso de omissão da maioria do grupo, a solução deve ser minoritária. Essa, contudo, é uma situação indesejável, que deve ser evitada ao máximo pelo educador.

Em seu trabalho com jovens envolvidos na realização de ações protagônicas, cabe ao educador:

- Ajudar o grupo a identificar situações-problema e a posicionar-se diante delas;

- Empenhar-se para que o grupo não desamine nem se desvie dos objetivos propostos;

- Favorecer o fortalecimento dos vínculos entre os membros do grupo;

- Animar o grupo, não o deixando abater-se pelas dificuldades;

- Motivar o grupo a avaliar permanentemente sua atuação,

quando necessário, replanejá-la;

- Zelar permanentemente para que a ação dos jovens seja compreendida e aceita por todos os que com eles se relacionam no curso do processo;

- Manter um clima de empenho e mobilização no grupo;

- Colaborar na avaliação das ações desenvolvidas pelo grupo e na incorporação de suas conclusões nas etapas seguintes do trabalho.


O educador que se dispuser a atuar como animador de grupos de adolescentes em ações de protagonismo deverá:

- Ter consciência de que a participação na solução de problemas reais da comunidade é fundamental para o desenvolvimento pessoal e social de um adolescente;

- Conhecer os fundamentos, a dinâmica e a evolução do trabalho com grupos;

- Ter algum conhecimento a respeito da situação ou problema que se pretende enfrentar;

- Compreender adequadamente o projeto e ser capaz de explicá-lo quando necessário;

- Ter participado de ações grupais, ainda que não tenha sido na condição de animador;

- Estar convencido da importância da ação a ser realizada e estar disposto a transmitir a outras pessoas, esse conhecimento;

- Ter capacidade de administrar oscilações de comportamento entre os adolescentes, como conflitos, passividade, diferença, agressividade e destrutibilidade;

- Ser capaz de conter-se para proporcionar aos educandos a oportunidade de pensar e agir livremente;

- Acolher e compreender as manifestações verbais e não-verbais emitidas pelo grupo;

- Respeitar a identidade, o dinamismo e a dignidade de cada um dos membros do grupo.


Essa maneira de trabalhar com os adolescentes certamente irá contribuir para que muito do que hoje é considerado problema transforme-se amanhã em solução. Para isso, é preciso enfrentar de modo efetivo os problemas da escola, da comunidade e da vida social. O fundamental é acreditar sempre no potencial criador e na força transformadora do jovens.

A construção pedagógica do jovem solidário, autônomo, competente e participativo por meio do protagonismo juvenil deve, portanto, ser considerada uma forma superior de educação afetivo-sexual.



Referências Bibliográficas

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Protagonismo Juvenil - Adolescência, Educação e Participação Demográfica. Fundação Odebrecht. Salvador, 1998 (mimeo).

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Tempo de Crescer - Adolescência, Cidadania e Participação. Fundação Odebrecht. Salvador, 1998 (mimeo).

COSTA, Antonio Carlos Gomes da, COSTA, Alfredo Carlos Gomes da & PIMENTEL, Antônio de Pádua Gomes. Educação de Vida - Um Guia para o Adolescente. Modus Faciendi. Belo Horizonte, 1998.



Antônio Carlos Gomes da Costa
Pedagogo, diretor-presidente da MODUS FACIENDI, atua como escritor, conferencista e consultor das seguintes organizações: Instituto Ayrton Senna, Fundação Odebrecht, Fundação Bradesco, Fundação Pitágoras, Rede Globo de Televisão, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto Brasileiro de Produtividade e Qualidade (IBPQ), Fundação Maurício Sirotsky, UNICEF, OIT, Bank Bonston e GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). Realizou missões de consultoria em diversos países da América Latina: Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Colômbia, Guatemala, Costa Rica, El Salvador e Honduras. Na vida pública, ocupou diversos cargos, entre eles, Secretário de Educação de Belo Horizonte, presidente do CBIA (Centro Brasileiro para Infância e Adolescência), oficial de projetos do UNICEF, membro do Comitê dos Direitos da Criança da ONU (Genebra) e representante do Brasil no Instituto Interamericano da Criança (OEA). É autor de vários livros e artigos sobre desenvolvimento pessoal e social: Pedagogia da Presença, Tempo de Crescer, Protagonismo Juvenil, Encontros e Travessias, Educação pelo Trabalho, Educação e Vida e Aventura Pedagógica. Atualmente, atua como conselheiro de várias organizações: Instituto Ayrton Senna, Fundação Abrinq, Instituto de Hospitalidade da Bahia e Conselho de Educação da FIEMG

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca

Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Milton Nascimento e Fernando Brant)